POR: FELIPE PRETEL ANTUNES VIEIRA
Viver com depressão é uma jornada solitária e desafiadora — cada dia tende a pesar mais que o anterior. O medo, o estigma e a desinformação frequentemente dificultam o acesso à ajuda adequada. Adiar o tratamento intensifica o sofrimento e compromete várias dimensões da vida: saúde física, vínculos sociais e qualidade de vida como um todo.
O Perigo de Ter Depressão e Não Buscar Tratamento
Evitar o tratamento para a depressão representa um risco que abrange diversas áreas, impactando a saúde mental do indivíduo e também sua saúde física, relações sociais e qualidade de vida em geral. A análise a seguir delineia os riscos associados à depressão não tratada.
1. Agravamento dos Sintomas
Um dos perigos imediatos da depressão não tratada é a potencial piora dos sintomas ao longo do tempo. Indivíduos com depressão que não procuram tratamento apresentam um risco maior de experimentar sintomas mais severos, o que pode levar à depressão crônica (Beljouw et al., 2010). Por exemplo, a depressão não tratada pode evoluir de leve para moderada ou grave, resultando em maior sofrimento e comprometimento funcional (Beljouw et al., 2010). Essa progressão pode criar um ciclo de desesperança, tornando cada vez mais difícil para os indivíduos buscarem ajuda à medida que sua condição se deteriora.
2. Aumento do Risco de Suicídio
A depressão não tratada é um fator de risco significativo para pensamentos e comportamentos suicidas. Indivíduos com depressão grave têm um risco maior de suicídio, especialmente se não receberem intervenção em tempo hábil (Lu et al., 2022). A falta de tratamento pode levar a sentimentos de desesperança e desespero, intimamente associados à ideação suicida (Lu et al., 2022). Abordar a depressão por meio de tratamento adequado pode reduzir significativamente o risco de suicídio e melhorar a segurança geral dos indivíduos que experimentam sintomas depressivos.
3. Impacto na Saúde Física
A relação entre saúde mental e saúde física é bem documentada, com a depressão não tratada associada a diversos problemas físicos. Indivíduos com depressão têm maior probabilidade de desenvolver condições crônicas de saúde, como doenças cardiovasculares, diabetes e obesidade (Mojtabai et al., 2016). Os efeitos fisiológicos da depressão, incluindo inflamação e desequilíbrios hormonais, podem exacerbar essas condições, levando a um declínio geral na saúde e ao aumento dos custos de assistência médica (Mojtabai et al., 2016). Portanto, buscar tratamento para a depressão é necessário. Seja pelo (próprio) bem-estar mental, mas também para a manutenção da saúde física.
4. Isolamento Social e Tensão nos Relacionamentos
A depressão frequentemente leva ao afastamento social e ao isolamento, podendo criar tensões nos relacionamentos com familiares e amigos. Indivíduos podem encontrar dificuldades para participar de atividades sociais ou manter conexões com entes queridos, resultando em sentimentos de solidão e agravando os sintomas depressivos (Ward et al., 2013). Ou seja, a falta de apoio social pode criar um ciclo vicioso, onde o isolamento piora a depressão e a depressão leva a mais isolamento. Assim, existe uma espécie de ciclo de feedback positivo, no qual o isolamento e a depressão se reforçam mutuamente, agravando-se continuamente.
(Buscar tratamento pode ajudar os indivíduos a se reconectarem com suas redes de apoio e a melhorarem seus relacionamentos interpessoais).
5. Comprometimento Funcional e Qualidade de Vida
A depressão não tratada pode comprometer significativamente a capacidade do indivíduo de funcionar na vida diária, afetando o desempenho no trabalho, o sucesso acadêmico e a qualidade de vida geral. Pessoas com depressão não tratada frequentemente enfrentam dificuldades de concentração, tomada de decisão e motivação, o que pode prejudicar sua capacidade de desempenhar efetivamente diversos papéis (Magaard et al., 2017). Esse comprometimento pode levar à perda de emprego, fracasso acadêmico e a um senso diminuído de ‘significado’, perpetuando ainda mais o ciclo depressivo.
6. Aumento do Risco de Abuso de Substâncias
Indivíduos com depressão não tratada estão em maior risco de recorrer ao uso de substâncias como mecanismo de enfrentamento. Estudos demonstram que a depressão está associada a uma maior probabilidade de abuso de substâncias, o que pode levar a uma série de problemas adicionais de saúde e sociais (Lu et al., 2022; Zewdu et al., 2019). O uso de substâncias pode complicar ainda mais o tratamento da depressão, tornando a recuperação mais desafiadora e aumentando o risco de desfechos negativos.
7. Custos Econômicos
A depressão sem tratamento gera um impacto econômico expressivo — seus efeitos ultrapassam o indivíduo e se estendem à sociedade. Custos como perda de produtividade, maior demanda por serviços de saúde e suporte social tornam-se significativos (Cuijpers et al., 2011). O acesso ao tratamento reduz esses encargos e melhora o funcionamento global do indivíduo, gerando benefícios tanto pessoais quanto coletivos.
Desta maneira, os perigos de ter depressão e não buscar tratamento são profundos e de longo alcance. A depressão não tratada pode levar ao agravamento dos sintomas, aumento do risco de suicídio, impactos negativos na saúde física, isolamento social, comprometimento funcional, abuso de substâncias e custos econômicos significativos. É fundamental que indivíduos que experimentam sintomas depressivos busquem ajuda e acessem o tratamento apropriado para mitigar esses riscos e melhorar sua qualidade de vida geral.
Conclusão Geral:
Enfrentar a depressão é uma jornada desafiadora, mas você não está sozinho(a). Ignorar os sintomas e evitar o tratamento pode intensificar o sofrimento e impactar profundamente diversas áreas da sua vida, desde a saúde física até os relacionamentos pessoais. No entanto, buscar ajuda é um passo corajoso e fundamental para retomar o controle e melhorar sua qualidade de vida. No Brasil, existem recursos e profissionais capacitados prontos para oferecer suporte. Psicólogos, médicos e centros de saúde mental estão disponíveis para ajudar você a encontrar o caminho para a recuperação. Além disso, redes de apoio, como grupos de terapia e organizações comunitárias, podem proporcionar o suporte necessário para enfrentar a depressão. Pedir ajuda é um gesto de coragem e autocuidado. Com o tratamento adequado, é possível aliviar os sintomas da depressão, fortalecer os vínculos sociais e resgatar o sentido da vida. Buscar apoio é um passo legítimo em direção à saúde mental e ao bem-estar. Se você ou alguém próximo enfrenta sintomas depressivos, procure um profissional de saúde mental ou acesse os serviços públicos disponíveis. Existem caminhos viáveis para uma vida mais estável, saudável e significativa.
🔎 Sobre o trabalho clínico de Felipe Pretel
Psicólogo pela UNIFESP, com formação clínica continuada pelo Instituto de Psicologia da USP e pela Clínica Singularis, Pretel atua a partir de uma abordagem psicodinâmica contemporânea, com foco em conflitos afetivos, estruturas de personalidade e simbolização das experiências.
Também formado em Economia pela FEA-USP, desenvolve uma escuta ampliada das dimensões estruturais da vida humana — como valor, trabalho, posição e contingência — integrando leitura sociocultural com técnica clínica refinada.
As entrevistas abaixo oferecem um ponto de entrada simbólico para compreender sua forma de pensar, trabalhar e interpretar os dilemas existenciais da nossa época — revelando tanto o estilo clínico quanto a densidade subjetiva do autor:
- 📄 Entrevista Internacional (IssueWire)
- 📄 Nova Entrevista Internacional (ISStories)
- 📲 Instagram Profissional: @ifpretel
- 💼 LinkedIn Profissional
Clínica fundamentada, simbolização profunda e escuta atravessada por conflitos reais, relações vividas e posicionamentos subjetivos.
Referências*
Beljouw, I., Verhaak, P., Cuijpers, P., Marwijk, H., & Penninx, B. (2010). The course of untreated anxiety and depression, and determinants of poor one-year outcome: a one-year cohort study. BMC Psychiatry, 10(1). https://doi.org/10.1186/1471-244x-10-86
Cuijpers, P. (2011). The patient perspective in research on major depression. BMC Psychiatry, 11(1). https://doi.org/10.1186/1471-244x-11-89
Lu, W., Bessaha, M., & Muñoz-Laboy, M. (2022). Examination of young US adults’ reasons for not seeking mental health care for depression, 2011-2019. JAMA Network Open, 5(5), e2211393. https://doi.org/10.1001/jamanetworkopen.2022.11393
Magaard, J., Seeralan, T., Schulz, H., & Brütt, A. (2017). Factors associated with help-seeking behaviour among individuals with major depression: a systematic review. PLoS One, 12(5), e0176730. https://doi.org/10.1371/journal.pone.0176730
Mojtabai, R., Olfson, M., & Han, B. (2016). National trends in the prevalence and treatment of depression in adolescents and young adults. Pediatrics, 138(6). https://doi.org/10.1542/peds.2016-1878
Ward, E., Mengesha, M., & Issa, F. (2013). Older African American women’s lived experiences with depression and coping behaviours. Journal of Psychiatric and Mental Health Nursing, 21(1), 46-59. https://doi.org/10.1111/jpm.12046
Zewdu, S., Hanlon, C., Fekadu, A., Medhin, G., & Teferra, S. (2019). Treatment gap, help-seeking, stigma and magnitude of alcohol use disorder in rural Ethiopia. Substance Abuse Treatment Prevention and Policy, 14(1). https://doi.org/10.1186/s13011-019-0192-7
*Formato APA (American Psychological Association)
FELIPE PRETEL ANTUNES VIEIRA