POR: FELIPE PRETEL ANTUNES VIEIRA
Sabe aquele clima ‘bom’ quando todos confiam uns nos outros?
Sabe aquele clima bom que se cria quando as pessoas realmente confiam umas nas outras? É como um fio invisível que mantém tudo em pé. As conversas fluem melhor, os vínculos se fortalecem e até os problemas parecem mais simples de resolver. Mas basta uma atitude antiética para esse fio se romper — e, quando isso acontece, alguma coisa essencial se perde. A confiança não se recompõe de um dia para o outro, e as cicatrizes ficam. Quando essa quebra atinge pessoas em situação de vulnerabilidade — como crianças, idosos ou grupos marginalizados — o impacto se espalha. Famílias sentem o efeito, comunidades se enfraquecem e a saúde emocional coletiva sofre. Isso não é só percepção: a ciência mostra com clareza que comportamentos antiéticos geram ciclos de desconfiança, isolamento e, muitas vezes, desdobramentos legais sérios. Essa compreensão foi se formando ao longo do meu caminho.
Na graduação em Economia na USP, o conceito de Equilíbrio de Nash me mostrou como decisões individuais podem criar cooperação ou conflito em sistemas inteiros. Mais tarde, já em Psicologia na UNIFESP e no Programa de Pós-Graduação em Psicologia Clínica no IP-USP, aprofundei esse olhar nos estudos de Jaak Panksepp — especialmente no sistema CARE, que explica como nosso cérebro é biologicamente preparado para buscar vínculo, segurança e pertencimento. A disciplina Ethos Humano consolidou isso: integridade não é só um valor moral — é uma base neuropsicológica da saúde mental. É por isso que este artigo parte de uma certeza prática: ética vai além de cumprir regras. Ela protege você, sustenta relações e fortalece comunidades. E a ciência mostra exatamente como isso acontece. A seguir, vamos entender por que investir em integridade é uma das escolhas mais inteligentes para cultivar confiança real e estabilidade emocional duradoura.
Comportamentos Antiéticos e Seus Impactos em Indivíduos Vulneráveis
Comportamentos antiéticos são definidos como ações que violam padrões morais e podem gerar consequências adversas tanto para indivíduos quanto para a sociedade como um todo. Quando tais ações são direcionadas a indivíduos vulneráveis — como crianças, idosos ou grupos marginalizados — os efeitos podem ser particularmente devastadores. Pesquisas demonstram que indivíduos que praticam comportamentos antiéticos frequentemente o fazem sob o pretexto de obrigação familiar ou social, utilizando essas justificativas para comprometer o bem-estar de outros (Elshaer et al., 2022).
Por exemplo, Elshaer et al. (2022) revelam como a percepção de insegurança no emprego e pressões financeiras pode motivar indivíduos a comprometer padrões éticos em ambientes de trabalho, colocando em risco o bem-estar de suas famílias e comunidades. Essas práticas antiéticas podem desestabilizar famílias, gerar problemas de saúde mental, aumentar níveis de estresse e fragmentar comunidades. A literatura sugere que, quando indivíduos priorizam seus próprios interesses em detrimento dos outros, isso fomenta uma cultura de desconfiança e ressentimento que reverbera através de relacionamentos e comunidades (Aaldering et al., 2020). Além disso, esses comportamentos frequentemente levam a um ciclo de mecanismos de enfrentamento desadaptativos entre os afetados, resultando em aumento de casos de ansiedade, depressão e deterioração da saúde mental coletiva (Volkema et al., 2010).
Conduta Ética e Resultados Psicossociais Positivos
Em contraste, a conduta ética mostra forte relação com resultados psicossociais positivos. Evidências consistentes indicam que indivíduos guiados por princípios éticos tendem a apresentar maior bem-estar mental e a favorecer ambientes mais saudáveis nas relações familiares e comunitárias (Volkema et al., 2010). A liderança ética, em especial, atua como um determinante fundamental do clima psicológico de uma organização, promovendo confiança, cooperação e eficácia coletiva (Bush et al., 2020).
Pesquisas de Jiang & Lin (2021) elucidam o “efeito cascata” da liderança moral, mostrando como comportamentos éticos de líderes influenciam as condutas éticas de colaboradores, criando um impacto sistêmico positivo.
Além disso, o comportamento ético tende a cultivar coesão social, resiliência e bem-estar psicológico nas comunidades. Pesquisas sobre dinâmica de grupos revelam que ações morais coletivas reforçam relações de apoio e laços sociais, essenciais para a manutenção da saúde mental (Mishra & Dharmani, 2023). Aaldering et al. (2020) destacam o papel das normas de grupo na promoção de comportamentos éticos em negociações, ressaltando como climas éticos positivos podem desencorajar escolhas antiéticas em contextos colaborativos.
Padrões de Comportamento Antiético e Suas Consequências
Apesar dos resultados positivos associados à conduta ética, a literatura indica que comportamentos antiéticos geralmente estão ligados a repercussões negativas, tanto para indivíduos quanto para comunidades. Estudos revelam um padrão recorrente em que comportamentos antiéticos levam à queda de reputação e a consequências legais. Kish-Gephart et al. (2010) fornecem evidências meta-analíticas mostrando como a obediência a diretrizes antiéticas de figuras de autoridade está ligada a maior incidência de tomada de decisão antiética em diferentes contextos. Como resultado, esse tipo de conduta pode causar danos significativos à reputação de indivíduos e organizações, levando ao isolamento social prolongado.
Além disso, Thau et al. (2015) indicam que o risco de exclusão social aumenta significativamente quando ações antiéticas são descobertas, perpetuando ciclos de má conduta e isolamento. À medida que esses comportamentos se tornam públicos, os indivíduos frequentemente enfrentam reações adversas, resultando em perda de confiança e aumento do escrutínio por parte de colegas e membros da comunidade. A exposição eventual de condutas ocultas reforça a natureza cíclica do desligamento ético, indicando que aqueles que priorizam escolhas antiéticas frequentemente acabam em situações de risco social e profissional.
Portanto…
Em síntese, a interação entre ética pessoal, integridade e saúde mental coletiva é profunda. Comportamentos antiéticos direcionados a indivíduos vulneráveis desestabilizam núcleos familiares e estruturas comunitárias, enquanto a conduta ética promove resiliência e resultados psicossociais positivos. As evidências apontam consistentemente para os efeitos prejudiciais do comportamento antiético, destacando sua associação com declínio reputacional, consequências legais e isolamento social. Portanto, fomentar culturas e práticas éticas é essencial para proteger a saúde mental coletiva e garantir o bem-estar das pessoas no contexto comunitário.
🔎 Sobre o trabalho clínico de Felipe Pretel
Psicólogo pela UNIFESP, com formação clínica continuada pelo Instituto de Psicologia da USP e pela Clínica Singularis, Pretel atua a partir de uma abordagem psicodinâmica contemporânea, com foco em conflitos afetivos, estruturas de personalidade e simbolização das experiências.
Também formado em Economia pela FEA-USP, desenvolve uma escuta ampliada das dimensões estruturais da vida humana — como valor, trabalho, posição e contingência — integrando leitura sociocultural com técnica clínica refinada.
As entrevistas abaixo oferecem um ponto de entrada simbólico para compreender sua forma de pensar, trabalhar e interpretar os dilemas existenciais da nossa época — revelando tanto o estilo clínico quanto a densidade subjetiva do autor:
- 📄 Entrevista Internacional (IssueWire)
- 📄 Nova Entrevista Internacional (ISStories)
- 📲 Instagram Profissional: @ifpretel
- 💼 LinkedIn Profissional
Clínica fundamentada, simbolização profunda e escuta atravessada por conflitos reais, relações vividas e posicionamentos subjetivos.
REFERÊNCIAS
Aaldering, H., Zerres, A., & Steinel, W. (2020). Constituency norms facilitate unethical negotiation behavior through moral disengagement. Group Decision and Negotiation, 29(5), 969–991. https://doi.org/10.1007/s10726-020-09691-1
Bush, J., Welsh, D., Baer, M., & Waldman, D. (2020). Discouraging unethicality versus encouraging ethicality: Unraveling the differential effects of prevention‐ and promotion‐focused ethical leadership. Personnel Psychology, 74(1), 29–54. https://doi.org/10.1111/peps.12386
Elshaer, I., Ghanem, M., & Azazz, A. (2022). An unethical organizational behavior for the sake of the family: Perceived risk of job insecurity, family motivation and financial pressures. International Journal of Environmental Research and Public Health, 19(11), 6541. https://doi.org/10.3390/ijerph19116541
Jiang, R., & Lin, X. (2021). Trickle-down effect of moral leadership on unethical employee behavior: A cross-level moderated mediation model. Personnel Review, 51(4), 1362–1385. https://doi.org/10.1108/pr-04-2020-0257
Kish-Gephart, J., Harrison, D., & Treviño, L. (2010). Bad apples, bad cases, and bad barrels: Meta-analytic evidence about sources of unethical decisions at work. Journal of Applied Psychology, 95(1), 1–31. https://doi.org/10.1037/a0017103
Mishra, M., & Dharmani, P. (2023). Unethical pro-family behavior: A literature review and implications for managers. Development in Learning Organizations: An International Journal, 37(6), 5–7. https://doi.org/10.1108/dlo-09-2022-0177
Nash, J. (1950). Equilibrium points in n-person games. Proceedings of the National Academy of Sciences, 36(1), 48–49. https://doi.org/10.1073/pnas.36.1.48
Panksepp, J. (1998). Affective neuroscience: The foundations of human and animal emotions. Oxford University Press.
Thau, S., Derfler‐Rozin, R., Pitesa, M., Mitchell, M., & Pillutla, M. (2015). Unethical for the sake of the group: Risk of social exclusion and pro-group unethical behavior. Journal of Applied Psychology, 100(1), 98–113. https://doi.org/10.1037/a0036708
Volkema, R., Fleck, D., & Hofmeister, A. (2010). Predicting competitive-unethical negotiating behavior and its consequences. Negotiation Journal, 26(3), 263–286. https://doi.org/10.1111/j.1571-9979.2010.00273.x