Você sabe o que é EMDR?

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POR: FELIPE PRETEL ANTUNES VIEIRA

 

Explorando a Terapia EMDR: Um Guia Abrangente para Psicólogos e Pacientes!

A terapia Eye Movement Desensitization and Reprocessing (EMDR) tem sido reconhecida como um tratamento eficaz para condições relacionadas ao trauma, especialmente o Transtorno de Estresse Pós-Traumático (TEPT). Desenvolvida na década de 1980 pela Dra. Francine Shapiro, a EMDR combina elementos da terapia cognitivo-comportamental com uma abordagem distintiva de estimulação bilateral, geralmente na forma de movimentos oculares guiados.

Origens da EMDR

A EMDR surgiu a partir da descoberta da Dra. Shapiro de que determinados movimentos oculares podiam reduzir a intensidade de pensamentos perturbadores, levando à hipótese de uma conexão entre movimentos oculares e o processamento emocional. Desde então, a EMDR evoluiu para um protocolo estruturado que integra estratégias cognitivas, comportamentais e baseadas em mindfulness, sendo amplamente utilizada em contextos clínicos e de pesquisa (Rashidi et al., 2024; (Hase et al., 2018).

Base Neuropsicológica: O Modelo AIP

A base neuropsicológica da EMDR se ancora no Modelo de Processamento Adaptativo de Informações (AIP). Esse modelo propõe que sintomas de sofrimento decorrem de memórias traumáticas não processadas, que ficam “congeladas” em redes neurológicas, impedindo uma resolução adaptativa. A EMDR facilita o processamento dessas memórias, permitindo que o paciente as integre e resolva de forma adaptativa (Rashidi et al., 2024; (Hase et al., 2018). Esse reprocessamento ativa diversas redes cerebrais, com a estimulação bilateral auxiliando na integração entre vias sensoriais, de memória e emoções, normalizando a atividade cerebral associada a memórias desadaptativas (Rousseau et al., 2020).

Estrutura do Protocolo: As 8 Fases da EMDR

O protocolo da EMDR é composto por oito fases estruturadas:

  1. Anamnese: Levantamento detalhado da história do paciente e identificação de memórias-alvo.
  2. Preparação: Explicação da técnica e ensino de estratégias de autorregulação emocional.
  3. Avaliação: Identificação de crenças negativas ligadas à memória e crenças positivas desejadas.
  4. Dessensibilização: Lembrança da memória com estimulação bilateral para facilitar o processamento.
  5. Instalação: Reforço da crença positiva relacionada à memória.
  6. Escaneamento Corporal: Verificação de resíduos corporais ligados à memória.
  7. Fechamento: Encerramento da sessão com retorno a um estado de equilíbrio.
  8. Reavaliação: Verificação da integração das memórias processadas em sessões futuras (Jager et al., 2021).

 

Aplicabilidades Clínicas da EMDR

A EMDR é validada principalmente para o tratamento do TEPT, mas também tem aplicações em transtornos de ansiedade, trauma complexo, fobias e depressão (Watts et al., 2013; Karimi et al., 2020). Meta-análises confirmam sua eficácia em diversos sintomas relacionados ao trauma, com melhorias clínicas superiores às abordagens tradicionais (Watts et al., 2013; Chen et al., 2014). Além disso, adaptações da EMDR para crianças e adolescentes mostram resultados promissores em diferentes faixas etárias e contextos (Barron et al., 2019; Lazrove et al., 1998).

Comparativo com TCC e Terapia Psicodinâmica

Diferente da Terapia Cognitivo-Comportamental (TCC), que foca na reestruturação de pensamentos e mudanças comportamentais, a EMDR permite o processamento do trauma sem a necessidade de detalhamento verbal extensivo, o que pode facilitar a vivência emocional (Watts et al., 2013). Já a terapia psicodinâmica busca explorar fatores inconscientes do sofrimento. A EMDR, nesse contexto, se apresenta como um método mais estruturado e voltado para sintomas, com resultados mais rápidos (Watts et al., 2013; Karimi et al., 2020; (Maxfield et al., 2020).

Popularidade e Evidências Científicas

O crescimento da aceitação da EMDR se deve ao robusto conjunto de pesquisas que confirmam sua eficácia. Meta-análises indicam que ela pode ser tão eficaz quanto (ou mais do que) a TCC em alguns casos, com reduções significativas de sintomas (Watts et al., 2013; Chen et al., 2014). Além disso, estudos sugerem que a EMDR pode promover melhoras mais rápidas no tratamento de traumas (Maxfield et al., 2020).

Críticas e Limitações da EMDR

Apesar de seus resultados positivos, a EMDR enfrenta críticas, especialmente quanto à dependência da estimulação bilateral e à necessidade de mais validação neurocientífica. Sua aplicação em populações diversas e com traumas complexos também requer investigação constante (Rashidi et al., 2024; Maxfield, 2007). Há preocupações com a variação na qualidade do tratamento, especialmente quando o terapeuta não segue o protocolo com fidelidade (Hase et al., 2018).

Formação e Certificação em EMDR

Para atuar com EMDR, o psicólogo precisa realizar formação especializada por instituições credenciadas, como a EMDRIA. A formação inclui oficinas, práticas supervisionadas e atualização constante (Maxfield et al., 2020). A certificação exige competência técnica e ética na aplicação do método.

Conclusão

A terapia EMDR é uma ferramenta poderosa no arsenal de terapias focadas em trauma. Ao facilitar o processamento adaptativo de memórias traumáticas, permite que os pacientes avancem em direção à cura emocional. Com fases bem definidas, respaldo empírico e resultados rápidos, a EMDR se mostra essencial na prática psicológica moderna para o tratamento de transtornos ligados ao trauma.

🔎 Sobre o trabalho clínico de Felipe Pretel

Psicólogo pela UNIFESP, com formação clínica continuada pelo Instituto de Psicologia da USP e pela Clínica Singularis, Felipe atua a partir de uma abordagem psicodinâmica contemporânea, com foco em conflitos afetivos, estruturas de personalidade e simbolização das experiências.

Também formado em Economia pela FEA-USP, desenvolve uma escuta ampliada das dimensões estruturais da vida humana — como valor, trabalho, posição e contingência — integrando leitura sociocultural com técnica clínica refinada.

As entrevistas abaixo oferecem um ponto de entrada simbólico para compreender sua forma de pensar, trabalhar e interpretar os dilemas existenciais da nossa época — revelando tanto o estilo clínico quanto a densidade subjetiva do autor:

Clínica fundamentada, simbolização profunda e escuta atravessada por conflitos reais, relações vividas e posicionamentos subjetivos.

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Referências – Formato ABNT:

BARRON, I. et al. Eye movement desensitization reprocessing for children and adolescents with posttraumatic stress disorder: a systematic narrative review. Journal of EMDR Practice and Research, v. 13, n. 4, p. 270–283, 2019. Disponível em: https://doi.org/10.1891/1933-3196.13.4.270. Acesso em: 17 maio 2025.

CHEN, Y. et al. Efficacy of eye-movement desensitization and reprocessing for patients with posttraumatic-stress disorder: a meta-analysis of randomized controlled trials. Plos One, v. 9, n. 8, e103676, 2014. Disponível em: https://doi.org/10.1371/journal.pone.0103676. Acesso em: 17 maio 2025.

HASE, M. et al. Eye movement desensitization and reprocessing versus treatment as usual in the treatment of depression: a randomized-controlled trial. Frontiers in Psychology, v. 9, 2018. Disponível em: https://doi.org/10.3389/fpsyg.2018.01384. Acesso em: 17 maio 2025.

JAGER, I. et al. EMDR therapy for misophonia: a pilot study of case series. European Journal of Psychotraumatology, v. 12, n. 1, 2021. Disponível em: https://doi.org/10.1080/20008198.2021.1968613. Acesso em: 17 maio 2025.

KARIMI, Z. et al. Comparison of efficacy of eye movement desensitization and reprocessing and cognitive behavioral therapy on depression in patients with myocardial infarction. Journal of Clinical Care and Skills, v. 1, n. 1, p. 11–15, 2020. Disponível em: https://doi.org/10.52547/jccs.1.1.11. Acesso em: 17 maio 2025.

LAZROVE, S. et al. An open trial of EMDR as treatment for chronic PTSD. American Journal of Orthopsychiatry, v. 68, n. 4, p. 601–608, 1998. Disponível em: https://doi.org/10.1037/h0080368. Acesso em: 17 maio 2025.

MAXFIELD, L. Current status and future directions for EMDR research. Journal of EMDR Practice and Research, v. 1, n. 1, p. 6–14, 2007. Disponível em: https://doi.org/10.1891/1933-3196.1.1.6. Acesso em: 17 maio 2025.

MAXFIELD, L.; SOLOMON, R.; HURLEY, E. Eye-movement desensitization and reprocessing therapy for PTSD. p. 163–186, 2020. Disponível em: https://doi.org/10.1037/0000196-008. Acesso em: 17 maio 2025.

RASHIDI, H. et al. Eye movements desensitization and reprocessing with finger movements and elite mobile health software on guilt feeling of parents of children with autism: a randomized trial. Journal of Psychiatric and Mental Health Nursing, v. 32, n. 1, p. 89–101, 2024. Disponível em: https://doi.org/10.1111/jpm.13088. Acesso em: 17 maio 2025.

ROUSSEAU, P. et al. Cracking the EMDR code: recruitment of sensory, memory and emotional networks during bilateral alternating auditory stimulation. Australian & New Zealand Journal of Psychiatry, v. 54, n. 8, p. 818–831, 2020. Disponível em: https://doi.org/10.1177/0004867420913623. Acesso em: 17 maio 2025.

WATTS, B. et al. Meta-analysis of the efficacy of treatments for posttraumatic stress disorder. The Journal of Clinical Psychiatry, v. 74, n. 6, p. e541–e550, 2013. Disponível em: https://doi.org/10.4088/jcp.12r08225. Acesso em: 17 maio 2025.

FELIPE PRETEL ANTUNES VIEIRA

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Sobre o Felipe

Felipe Pretel, USP

Psicólogo Clínico com foco em Saúde Mental baseada em Evidências

Psicólogo Clínico formado pela Universidade Federal de São Paulo – UNIFESP e Economista formado pela Universidade de São Paulo – FEA-USP. Atua no tratamento de ansiedade, transtornos emocionais e dificuldades interpessoais, utilizando abordagens científicas para promover bem-estar psicológico. Com experiência acadêmica e profissional internacional, aplica neurociência e psicologia baseada em evidências para auxiliar no desenvolvimento emocional e no fortalecimento da saúde mental. Realiza atendimentos em português, inglês e espanhol.

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